domingo, 3 de abril de 2011

Desabafo de uma Directora

Pedi a demissão do meu cargo de Directora do Agrupamento de Escolas de Campelos no dia 5 de Janeiro de 2011. Não é meu costume desistir de nada. As dificuldades e os obstáculos foram sempre para mim um desafio. O facto de pedir a demissão não significa que tenha desistido. Não desistirei nunca de acreditar! Não podem no entanto pedir-me que pactue com o que estão a fazer da educação. Continuo a crer que só pela educação se poderá alterar a sociedade, continuo a acreditar que todos somos responsáveis pelo que se fez deste país e pelo que se está a passar no Mundo. A sociedade deixou que pusessem em primeiro lugar as finanças e tudo é comandado pelo “vil metal”. Os valores alteraram-se e subverteram-se de tal maneira que as pessoas ficaram para segundo lugar. A Educação passou a ser um “emblema” da governação, como factor promotor de governantes e políticos, mas em que (também aqui), de uma forma economicista de “lucro”, entendido aqui como a quantidade de alunos, a quantidade de diplomas, de sucesso, e de resultados estatísticos em detrimento da qualidade do ensino. O sistema (ou sistemas) educativo, têm promovido programas demasiado extensos e livrescos, em que não se investe no desenvolvimento da inteligência emocional dos alunos e muito menos no desenvolvimento do seu espírito crítico e reflexivo. Promove-se uma juventude alienada, desinteressada e irresponsável, desenvolvendo apenas o sentido dos direitos e do facilitismo. Uma juventude que cresce sem sentido do dever, sem a noção da preservação do bem comum, do valor e dignidade do trabalho ou da cidadania participativa. Os poderosos deste mundo não querem cidadãos conscientes, que questionem, que reclamem que intervenham, preferem manter o povo alheado, indiferente e conformado. Dão-se uns computadores aos meninos, em vez de se equiparem efectivamente as escolas. Destroem-se projectos educativos e de intervenção, põem-se em causa acções antes consideradas exemplos de boas práticas, promove-se a incompetência e a negligência em detrimento da dedicação e da competência. Avaliam-se desempenhos encenados, valoriza-se a burocracia e a aparência, não dando apreço a práticas continuadas de um trabalho quantas vezes silenciosas, mas eficientes e eficazes. Não se combate o facilitismo e a desresponsabilização dos pais e encarregados de educação, que sendo também eles fruto de uma educação em que se valorizaram apenas os direitos, não conseguem impor regras, nem admitir que tendo o seu filho prevaricado, deverá “pagar” à comunidade escolar com a sua contribuição para o bem comum!... Pobre do país e pobre do mundo em que se aposta mais no ter que no ser. Em que se hipoteca o futuro, com a finança a superar a economia, a solidariedade e sobretudo o humanismo! Vou continuar na Educação, vou trabalhar directamente com as crianças, a quem penso poder dar o meu melhor como professora que me orgulho de ser, mas não pactuando com o desnorte de que a gestão e a administração das escolas estão a ser vítimas neste momento. Sou pela defesa da ética e dos valores de humanismo e responsabilidade, é tempo de se alterar o paradigma em que nos vimos mergulhar e afundar. Acredito que se à nossa volta conseguirmos mudar pequenas coisas, conseguiremos melhorar o País e até o Mundo. Na escola, e na sociedade tudo farei para o conseguir. Sou uma utópica, eu sei, mas como diria Eduardo Galeano “UTOPIA: Ela está no horizonte, acerco-me um passo e ela se afasta dois. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos mais. Por muito que eu caminhe - Nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso. Para nos fazer caminhar!...” Maria Teresa Serrenho

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